sexta-feira, 21 de outubro de 2016

De Manaus ao Caribe de Carro

Amazonenses adoram praia. Mas, para quem mora no norte do país, cercado pela floresta amazônica, o jeito é encarar milhares de quilômetros para curtir as delícias do Mar do Caribe. A Isla Margarita, na Venezuela, tem sido o destino de férias de manauaras e boa-vistenses, atraídos por preços baixos e belezas naturais. É possível ir de avião, mas os mais aventureiros não se importam em rodar 1.943 km a partir de Manaus.


A viagem é um grande desafio. Cruzar parte da floresta amazônica e da Venezuela exige atenção, organização e muita paciência. O país, assolado por uma crise econômica há anos, sofre com a falta de produtos básicos. Levar água mineral, papel higiênico, itens de higiene, derivados de leite e fraldas (para crianças) pode evitar dores de cabeça. Lanches, frutas e duas caixas de bombons para os soldados nas alcabalas (posto de controle) são recomendáveis.

Todo mundo sabe uma história de extorsão de turistas brasileiros. Deve-se ter documentação em ordem e o carro com revisão completa. Viajar em comboio pode dificultar tentativas de abusos, e ir só durante o dia aumenta a segurança, nas abordagens policiais ou por causa da má sinalização. As estradas são escuras e, em muitos trechos, não tem faixas pintadas; as poucas placas estão, muitas vezes, pichadas, depredadas ou ocultas na vegetação.

 As alcabalas merecem atenção especial. São dezenas de paradas nos postos de verificação da Guarda Nacional Bolivariana, em geral, nas entradas e saídas de cidades e povoados. Ao passar pelo olhar atento dos soldados armados com metralhadoras, abaixe os vidros do veículo (inclusive de trás); tire os óculos escuros; seja educado e responda com calma a todas as perguntas; tenha toda documentação do veículo e passageiros em mãos; e atenda caso eles decidam revistar a bagagem ou porta-malas. Alguns”garotos”, como eles chamam os bombons, podem “adoçar” o tratamento.

 Hodômetro zerado na rodovia BR-174, saída de Manaus, às 4h30, para chegar a Santa Elena de Uairén, na Venezuela, ainda de dia. Após 204 km, passagem pela reserva indígena Waimiri-Atroari. A estrada é bem conservada e sinalizada.

O tráfego na reserva só é liberado das 5 às 18 horas. Não é permitido parar ou fotografar e a via é monitorada por câmeras. Placas pedem cuidado para não atropelar animais, como cobras, jacarés, onças e tartarugas. É difícil ver os Waimiri-Atroari. Na saída da reserva (cerca de 120 km), uma Oca vende artesanato: cestos, flechas, zarabatanas e pulseiras.

Na altura do km 350, um monumento indica a linha do Equador. Na altura do quilômetro 500, entrocamento da BR-174, BR-210 e RR-170. Siga pela 174, sentido Caracaraí. Com 770 km, chega-se a Boa Vista. A capital de Roraima é ótima parada para almoçar após 9hs de estrada.

A vegetação de floresta equatorial dá lugar à Savana Amazônica e montanhas. Trecho bem deserto entre Roraima e Pacaraima, sem postos, sem acostamento e alguns buracos. Chega-se a Pacaraima por volta de 16 horas, 1.004 km desde Manaus. É preciso apresentar o RG ou passaporte no posto da Polícia Federal brasileira para receber o carimbo de saída do Brasil.

Fronteira Pacaraíma no Brasil e Santa Elena de Uairén na Venezuela

Do outro lado da fronteira, fica a Aduana Principal Ecológica de Santa Elena de Uairén (Venezuela), que fecha as 17 horas. Pernoite em hotel, onde tiver uma placa indicava não haver vagas, não se preocupe é uma situação comum, pois a maioria está cheia.

Às 8 horas, as filas do “permisso” para entrar na Venezuela são gigantesca.”facilitadores” pedem propina (R$ 30) para agilizar o processo, que leva seis horas. O documento do carro demora oito horas. Só com as autorizações pode-se pôr gasolina no posto da fronteira, único que abastece carro de brasileiros.

 A gasolina é quase de graça na Venezuela, mas esse posto tem preços mais altos, para evitar que brasileiros abasteçam e voltem para vender no Brasil. As filas também são enormes - é normal a reserva esgotar cedo e o posto fechar. Muita gente compra gasolina clandestina, vendida em borracharias, ou por moradores de Santa Elena ou Pacaraima, a cerca de R$ 2 por litro.

Abastecer no primeiro posto da Venezuela é um choque: dá para encher o tanque do carro com 4 bolívares, ou R$ 0,026. Em Puerto Ordaz, faltam 420 km para o porto; deve-se abastecer, pois os 100 km seguintes são isolados. De Puerto lá Cruz partem os Ferries que levam à ilha. À próxima parada, em Punta de Piedras, revela o azul do Mar do Caribe e a Boa culinária venezuelana.


  1. PASSAPORTE ou RG ( expedido no máximo à 10 anos). CNH do condutor Nacional ou internacional - ATENTE A VALIDADE DO DOCUMENTO
  2. IDEAL É FAZER RESERVA DE HOTÉIS E SERVIÇOS COM PELO MENOS 15 À 20 DIAS DE ANTECEDÊNCIA, principalmente na alta temporada
  3. Carteira internacional de Vacinação - contra a febre amarela deve ser tomada AO MENOS 10 DIAS ANTES DA VIAGEM
  4. No documento do veículo: NADA CONSTA EMITIDO PELO DETRAN e reconhecido em cartório
  5. Seguro internacional - em Santa Elena de Uairén é possível contratar, válido por 1 ano. O SEGURO SÓ COBRE DANOS A TERCEIROS VENEZUELANOS E REBOQUE ATÉ A FRONTEIRA
  6. DECLARAÇÃO PARA CONDUZIR O VEÍCULO ASSINADA E RECONHECIDA EM CARTÓRIO - só é necessária se quem estiver dirigindo não for o dono do veículo
  7. TIRE 3 CÓPIAS DE TODOS OS DOCUMENTOS E LEVE DINHEIRO EM ESPÉCIE. Reais para trocar em Santa Elena e dólares em Margarita. O Câmbio pode ser feito em hotéis e shoppings. EVITE TROCAR NA RUA
O bolívar perdeu muito valor na crise; as filas na migração são enormes: as pessoas ficam sob sol, sem ter onde comprar água ou sentar; são 2 horas de almoço no atendimento.


Autor: Marcelo Carvalho 

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